Era
uma vez...
Até onde minha consciência me
permite ir, não lembro de ter crescido traumatizada com contos de fadas. Muito
pelo contrário, adorava-os! Assistia repetidas vezes em todos os canais que
passassem. Só não curtia muito aqueles ‘disquinhos’ coloridos porque eu odiava
a voz do narrador.
'Depois de grande' foi que passei a
refletir sobre os tais contos e a me perguntar até que ponto eles influenciam
nossa vida adulta. Na vida dos meninos eu não sei até onde iria esta
influência. Mas na vida das meninas é deprimente!
O que aprendi com os contos de
fadas? A primeira coisa que me vem à mente é: não desobedecer! A Chapeuzinho
Vermelho desobedeceu a mãe e por pouco não se deu muito mal! Ainda no conto da Chapeuzinho Vermelho aprendi
a ter medo de lobos! Tem o que te ensina a não mentir, o que ensina a não
aceitar coisas de estranhos, o que ensina que só as casas de alvenaria é que
são resistentes (lembram dos três porquinhos??). E mais uma vez aprendi a ter
medo de lobos! Juro que se encontro com um, morro antes dele dizer que é a
vovozinha!
Aí vem as princesas, ah... as
princesas! Aprendi que toda madrasta é má! Mas será mesmo? É quando minhas
recordações chegam às princesas que o drama aumenta! Somos, incontestavelmente
(opinião minha), influenciadas por estes contos! Cremos que o mundo é cor de
rosa, e que se algo não vai bem, deve ser porque alguma bruxa ordinária nos
jogou alguma praga. Nunca vamos mal por culpa nossa, não é?! Temos ainda o ‘príncipe
encantado’, que tanto nos angustia. Nós, as princesas, estamos sempre em busca
do cara perfeito, de corpo escultural, voz forte, bem sucedido (príncipe), que
venha em um meio de transporte (Cavalo branco não significa um bicicleta, tá?!
É só ler nas entrelinhas) para nos salvar da praga da bruxa ordinária! E aqui
temos mais um drama! E se o príncipe não aparecer? E se não for ‘príncipe’(como
o dos contos)? Dormirei para sempre? E é por isso que nós, as princesas,
vivemos em função de encontrar estes príncipes. Caso contrário, dormiremos o
sono eterno! Trágico, não?! Mas é o que ensinam os contos!
O "felizes para sempre" se resume
ao ato do casamento! E a vida conjugal? Os contos não nos ensinam! E é graças a
isso que as gatas borralheiras se desdobram para estarem princesas, mesmo
depois de um dia exaustivo de trabalho, para seus companheiros. Seriam eles felizes
para sempre caso o príncipe tivesse visto a pobre Cinderela antes do up grade que sua fada madrinha lhe deu?
Cresci ouvindo e vendo os contos de
fadas, mas não fui educada para ser princesa. Não no que diz respeito aos bons
modos, não sou uma mestre em etiqueta, mas como diz minha amada mãe, “sei
chegar bem e sair bem de qualquer lugar”! Também, desde pequena, aprendi a
fazer as tarefas mais delicadas, mas aprendi a lidar com algumas mais pesadas
também. Meu pai não teve filho homem, mas isso não foi motivo para que não
tivesse o auxílio das filhas quando precisasse. Me diverti e ainda me divirto
sendo servente do meu pai metido a pedreiro. Acho que esta reflexão se deve a
isto, a este conflito que estas contradições geram em minha cabeça mega agitada.
Obviamente que espero encontrar alguém que faça os meus dias e noites ficarem
ainda melhores, mas passei a minha vida inteira ouvindo meus pais dizendo: “Estude!
A sabedoria é o melhor casamento!”. E isso ficou marcado em mim, a ponto de
trocar qualquer relacionamento amoroso por uma dedicação quase que exclusiva à
minha formação acadêmica! E sou honesta em dizer que não me arrependo! Senti
falta em alguns momentos, mas mantive o foco. Afinal, energia bem canalizada é
energia bem aproveitada, não é assim Freud?!
Mas agora que conclui minha formação
(sem deixar de me atualizar, claro), como fico? Será hora de buscar o tal
príncipe? Ou faço como nos contos, me finjo de morta e espero que ele me
encontre? O fato é que os contos têm poder sobre nossa vida adulta (salvo
alguns casos), e não nos daremos por satisfeitas até que tenhamos o nosso final
feliz.
FIM